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Tuesday, October 24, 2006
Querido diário, hoje eu estive a olhar o folheto de promoções do supermercado da empregada.
mel -
7:56 PM
Diário de Maneco
Sim, querido diário, a empregada tem supermercado. No meu mundo, todo mundo é rico.
Mas, quando eu estava procurando alguma idéia para o núcleo pobre da minha novela no folheto de ofertas, deparei-me com uma total falta de respeito à minha pessoa e à minha ambientação novelística.
Vou ter de confessar: é por isso que eu não colocarei núcleo pobre em minha novela. Eles são muito desrespeitosos.
Vi no jornal um anúncio de um PAPEL HIGIÊNICO LEBLON. É um tamanho despaupério, um absurdo, uma maldade, uma falta de respeito a mim, escritor de novelas da Globo desde quando ela foi inaugurada. Novelas tradicionais, ainda por cima, que se completam sendo a mesma coisa. Com mesmos personagens e artistas. Eu tenho tradição, eu tenho berço.
Eu sou um escritor de respeito, de respeito por minha vizinhança que assina Caras e aparece nela, portanto, senti-me ofendido e magoado com tal produto.
Parece-me uma arte de algum gazeteiro que vive rindo da minha obra grandiosa, ambientada no Leblon. Só no Leblon. Eu só gosto de falar da minha vizinhança, pois eles são muito educados. Fazem festa pra cachorro e ensinam seus filhos a (não) jogar ovos pela janela.
Porque os filhos de Ipanema jogam. Eles não são tão educados quanto a vizinhança do Leblon, que, acima de tudo, é discreta. A vizinhança do Leblon não fala de suas necessidades fisiológicas.
Portanto, acho um desrespeito absurdo um papel higiênico com o nome desta nobre burguesia.
Querido diário, e sabe o que é pior?
O tal do Papel Leblon ainda é pacotão econômico! Tem coisa mais pobre que isso?
Ainda é papel branco! Sem cachorrinhos desenhados por toda a sua extensão!
Cá entre nós, diário...
Ai minha Santa Helena, desculpe-me por expôr tamanhos detalhes íntimos em meu diário, mas...Aqui são as páginas de minha vida! Essas são as minhas confissões de final de capítulo!
Cá entre nós...
Você limparia o seu derrière com um papel higiênico que não tivesse cachorrinhos desenhados em toda a sua extensão?
Ou então papel sem cheiro de Aloe Vera? E branco? É uó!
Eu não limparia. Deve até fazer mal pra minha pele sedosa.
Nós, que temos classe, limpamos o bumbum com papel higiênico chique! Quando vêm visitas em minha casa, eu coloco aquele papel com fios de ouro. Só é usado em ocasiões especiais.
E sempre acaba durante as festas. Algum figurante deve estar roubando, vou colocar uma câmera no toalete e ver o que eles andam fazendo. E vender os direitos depois.
Ah, minha Santa Helena Regina, desculpe-me. Eu jurei nunca me espelhar no BBB.
Melhor eu parar por aqui, senão eu vou escrever mais coisa que não devo.. Algumas fofocas de colegas...
Não, diariozinho, eu juro que não vou escrever, eu jurei que deixaria as fofocas sempre a cargo de minha amicíssima Sônia Abrão, que as más línguas dizem ser alien, e eu vou negar, porque eu gosto dela, que divulga minha novela.
A tarde toda. Acho chique. Vou comprar-lhe uma casa no Leblon e doar-lhe um personagem do meu folhetim atual.
Meus roteiros são como coração de mãe: sempre cabe mais um.
E com o adicional de serem imprevisíveis!
Assinado: M.C.
PS: a obra é minha. Minhaminhaminha.